Um passeio pelos álbuns de estúdio do Epica – por Aline Cunha – playFEAT

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epica albuns

Epica, como a maioria já deve saber, é uma banda holandesa de metal sinfônico (e minha banda predileta) surgida em 2003.

Suas canções profundas e de temáticas admiráveis fazem com que seus fãs e apreciadores sejam capazes de mergulhar profundamente em reflexão.

 

E é exatamente isso o que faremos aqui, galera! Cair em reflexão e, claro, ouvir boa música!

As canções do Epica, de modo geral, abordam temas como espiritualidade, sentido da vida, política, cultura, religião, amor e etc., sempre de forma crítica. Então, resolvi escolher, de cada álbum de estúdio, uma canção não tão aclamada e/ou conhecida que aborde algumas das temáticas acima, especialmente as que mais me agradam: o ser humano e suas filosofias de vida: motivação, sentido da vida e razão da existência.

Fiz essa escolha porque acho importante evidenciar e valorizar canções que a banda nem sempre toca ao vivo em seus shows ou que o público tenha pouco conhecimento, mas, que são igualmente lindas e interessantes, tanto quanto as aclamadas e tocadas ao vivo. Claro, esse texto é uma análise pessoal e, como todo texto do gênero, é uma interpretação minha, mas, quem sabe você, que não conhece, se identifique ou você, que conhece, olhe com carinho para essas belas letras e melodias e atribua sua interpretação pessoal também?


ILLUSIVE CONSENSUS – Álbum: The Phantom Agony – Lançado em Junho de 2003 – composta por Mark Jansen e Simone Simons

 

Essa bela letra fala sobre como o amor entre duas pessoas, outrora intenso e belo, pode se romper e se tornar angustiante, gelado e sombrio. Na música, o apaixonado se decepciona com seu amante, que o abandona, e cai em profunda decadência. Acredito que haja dois pontos altos na música.

O primeiro poderia ser representado pelas duas fases do homem: aquele que sofre pela decepção, encontra-se em sentimentos sombrios e, transtornado, questiona o motivo pelo qual “almejou algo que nunca existiu”, sentindo uma espécie de culpa; e, posteriormente, aquele que, consciente da sua realidade, consegue enxergar que, na verdade, o problema está no outro, “bonito por fora e em profunda decadência por dentro”.

O segundo ponto alto é a referência à Elysium, Elísio ou, ainda Campos Elísios, importante figura geográfica da mitologia grega que se remete ou assemelha ao Paraíso, um lugar onde as almas mais nobres e benevolentes vão após sua morte. Na música, o ser entende que, após o abandono sofrido, encontra-se dentro de um “Elísio severo”, ou seja, sentindo-se morto por dentro, capturado para um “Paraíso” não tão colorido e calmo, mas, uma ida a um paraíso a contragosto, mais austero.

Assim como nos relacionamentos quebrados da vida real, a letra é um clamor, na verdade, para a cura das ilusões e a valorização do seu amor-próprio, encerrando, com chave de ouro, com a bela passagem em latim “Numquam non tibi diffidam”, que significa “Jamais perca a confiança em ti”.

 


ANOTHER ME IN LACK’ECH – Álbum Consign To Oblivion – Lançado em Abril de 2005 – Composta por Mark Jansen



Essa é uma das letras mais sinceras do Epica em relação ao comportamento ético do ser humano, na minha opinião. Ela trata exatamente de dois pontos cruciais da nossa conduta: a ganância de querer sempre mais e mais e nunca nos satisfazermos com nenhuma conquista, a busca equivocada pela felicidade através da ambição, fechando-nos cada vez mais em divergência e vazio e o fato de que a lei do retorno é certa: tudo o que fazemos ao próximo, colhemos de volta, seja para o bem, seja para o mal.

Podemos verificar que o início da canção soa como um alerta para quem “procura por enriquecimento e prejudica os outros” e para quem “ganha mais do que pode gastar”, elencando todas as consequências possíveis: miséria moral, vida vazia, ganância, fraqueza, sofrimento e vulnerabilidade. No decorrer da música, a letra ressalta, ainda, duas características muito fortes do tipo de personalidade gananciosa: a ambição e o egoísmo.

Ou seja, aquele que busca enriquecer prejudicando o próximo, cairá em ruínas, pois, “tudo o que você tem tirado de outros, será tirado de você/ tudo o que a sua dissonância sufoca/ voltará para você/ aconteça o que acontecer amanhã, e tudo o que fazes/ basta ter em mente, a fonte e o final é você”. E, como o Epica nunca escreve músicas descontextualizadas, assim também foi com essa. Como podem ter notado acima, essa letra foi composta unicamente pelo Mark Jansen, um profundo admirador de culturas antigas, como a maia, a egípcia e etc.

E essa canção está inserida justamente no álbum Consign to Oblivion, álbum que exalta a cultura maia. O título dessa música tem uma expressão maia, a “LACK’ECH”. Essa expressão significa, amalgamada à expressão “Aka K’in”, “eu sou você e você sou eu” e, para os maias, representava o seu código moral. Numa interpretação moderna e adaptada, quer dizer que cada ação que tomamos nas nossas vidas afeta todas as coisas vivas e retorna para nós mesmos.

Dissociada da expressão composta, “LACK’ECH” quer dizer exatamente “vazio ou falta de algo”. Sendo assim, o título da música quer dizer “Outro eu em falta de algo”, ou seja, eu sou você e você sou eu e esse “eu” está sempre vazio, em falta de algo, dominado pela ganância e cego pelo egoísmo e ambição, passível sempre da lei do retorno tão bem orientada pelos maias. Confira!



 

HIGHER HIGH – Álbum The Divine Conspiracy – FAIXA BÔNUS – EDIÇÃO LIMITADA – Lançado em agosto de 2007 – Composta por Simone Simons



Linda letra que soa como um verdadeiro grito de liberdade contra tudo aquilo que nos limita: seja trauma, medo, preconceito ou, traduzido para os tempos atuais, o tão perturbador e lamentável bulliyng. Após o desabafo melancólico de quem sofre, é um verdadeiro cântico de motivação, uma injeção de ânimo e coragem a favor do desabrochamento de todo nosso potencial e vai contra tudo o que nos coloca pra baixo.

Corresponde a um incentivo para ampliarmos nossa visão de mundo e de vida, como no trecho que segue: “Todos nós somos controlados pelos nossos medos escondidos/ Alto, mais alto / Nós estamos presos e não podemos sair outra vez. Existe mais do que o que nós negamos/ E há mais do que os olhos podem ver”. Traz, principalmente, uma importante mensagem, ao final da canção, de união e luta contra estigmas e preconceitos sociais (“Todos nós estamos respirando o mesmo ar/ Todos nós somos iguais/ Não importa se negros ou brancos”).

Essa canção foi composta como faixa bônus para uma edição limitada do álbum The Divine Conspiracy e tem uma melodia linda e suave. Você não pode deixar de conferir!

 


DECONSTRUCT – Álbum Design Your Universe – Lançado em Outubro de 2009 – Composta por Mark Jansen / Simone Simons / Yves Huts


Essa canção é totalmente autoexplicativa: devemos sempre nos desconstruir em busca de autoconhecimento. Apesar de a letra ter uma análise muito sensorial do comportamento humano, tem também uma forte crítica política. À época, o próprio Mark disse que essa música serviria (e muito) para toda a ganância política presente no mundo e para a necessidade de todos nós unirmos nossos esforços em prol da melhoria do planeta.

É uma canção que começa ressaltando a necessidade que todos nós temos de descontruir nossos conceitos pessoais e de mundo, reconhecer que sozinhos não somos ninguém, para, enfim, chegar à conclusão de que a arrogância e a ganância, bem como a falta de paciência, só levam à ruína do ser humano. Em relação à crítica política, isso fica bem evidente quando o autor afirma que “A angústia e a pobreza são as doenças de todo o mundo/ Nós vamos perceber tudo o que fizemos/ Há um preço a pagar/ A esperança ainda não está perdida/ sempre existe um caminho”.

Nota-se, aqui, a crítica à tamanha ganância dos nossos governantes mundiais, cuja população fica à mercê de migalhas e deficitárias políticas públicas devido à corrupção, mas, se nos unirmos, conseguiremos vencer. Sempre há esperança. E tudo isso faz parte do processo de desconstrução: desconstrução do mundo, de conceitos, de conhecimento, do seu eu interior. E, sim, o gran finale, “Se fossemos inteligentes/ Estaríamos juntos”, ressalta a importância da coletividade.

 

STAY THE COURSE – Álbum Requiem For The Indifferent – Lançado em Março de 2012 – Composta por Isaac Delahaye / Mark Jansen / Simone Simons


Essa música trata da necessidade de seguirmos o curso da nossa vida e dos nossos planos sem nos importarmos com a opinião alheia, sempre mantendo o foco para alcançar nossos objetivos.

É como um impulso de ânimo e força para seguirmos em frente mesmo diante das dificuldades impostas pela vida, como as pedras no caminho e os nossos próprios medos: “Mantenha o curso/ Seja impassível àquilo que os outros querem/ Vá do seu jeito/ Fique focado, mantenha-se forte/ (…) E independente do que dizem os críticos/ Procure o seu caminho dourado”, assim diz um trecho da letra.

Todos nós precisamos apenas de coragem e de autoconfiança para alcançarmos nossos objetivos de vida e é exatamente isso que a música vem nos alertar. Para cada atitude nossa, sempre haverá uma crítica ao nosso redor. Cabe a nós filtrar aquilo que nos ajuda e orienta e descartar aquilo que só nos joga para baixo da superfície. A canção também retrata a necessidade que temos de questionar e discordar de tudo aquilo que nos é apresentado para que consigamos romper com o véu que nos cega e nos limita: “Discorde/ Orientação é o que você precisa. ”



 

REVERENCE (LIVING IN THE HEART) – Álbum The Quantum Enigma – Lançado em Maio de 2014 – Composta por Mark Jansen


O Epica é uma banda que utiliza muito, em suas composições, além de conhecimento científico e cultural, nuances filosóficas. E essa é uma letra extremamente poderosa no que tange à filosofia e modo de vida. É uma canção que entende que, muitas das vezes, devemos dissociar mente e coração em busca de reconstrução.

Ao fazer essa separação, devemos nos amar, nos reverenciar e ouvir os chamados do nosso coração, ou seja, nossa intuição: “Viva no coração/ Experimente o agora/ Para realmente conhecer a si mesmo, ignore a sua mente e descubra-se novamente/ A vida é sempre desafiadora/ Para realmente encontrar-se, você não pode ser cego aos sinais que você obtém e ganha. ”


É uma letra em que o homem transita entre o turbilhão de pensamentos em que encontra-se sua mente, sente medo e tem dificuldade de ouvir sua voz interior, aquela que vem do nosso coração e nos puxa para outro caminho (muitas vezes certo): a nossa famosa intuição. A letra fala também da necessidade de vivermos o aqui e o agora como forma de, realmente, encontrarmos e conseguirmos enxergar o melhor caminho a ser seguido: “Aqui no agora, se você se identifica com seu próprio coração/ Irá mudar suas opiniões e fazer você se sentir em casa/ (…)Viva no coração/ Experimente o agora. ”


 

TEAR DOWN YOUR WALLS – Álbum The Holographic Principle – Lançado em Setembro de 2016 – Composta por Mark Jansen


Essa foi uma música que eu realmente escolhi a dedo para incluir nessa interpretação pessoal. Apesar de um pouco polêmica devido a não ter emplacado em sucesso, o que resultou em sua retirada dos setlists à época de seu lançamento, é uma das minhas músicas favoritas do álbum por um único motivo: não costumo avaliar uma música apenas pela sua sonoridade, mas, principalmente, pelo seu significado. E o significado dessa letra é forte e muito simbólico.

Começando pelo título, “Destrua suas paredes”, já dá para ter uma noção do que vem logo a seguir: uma canção emblemática na luta contra a hipocrisia e o preconceito. Trata-se justamente do dever que o ser humano tem de romper com crenças que ofuscam sua visão de mundo e o impedem de conviver socialmente com todas as pessoas, respeitando as suas diferenças. “Destrua suas paredes/ Deixe de lado seu preconceito/ Queime as árvores de ódio para o chão/ Destrua-as/ Não espere por um milagre, transforme objetivos em ações/ Busque o que é certo”, diz o refrão.

Sendo assim, todos nós temos nossas crenças, mas, a partir do momento em que elas passam a nos impedir de enxergar o sensato, o óbvio e o necessário, deixam de ser benéficas águas cristalinas para se transformarem em véus de cegueira, blindando nossa mente e fadando-nos ao fracasso. Mas, como fazemos isso? Dê uma chance à essa canção, analise-a com carinho e ouça-a com o coração, derrube suas paredes! 😉


Então é isso, galera! Tudo aquilo que nos faz sair da zona de conforto, abrir a mente e refletir, é algo que devemos dar bastante atenção, principalmente nos tempos atuais. E, se você não conhece o Epica ou conhece superficialmente ou, ainda, não deu nenhuma chance às canções citadas no texto, tente, tenho certeza que não se arrependerá! Nem sempre elas foram tão aclamadas, porém, analise suas letras e ouça suas melodias.

Você poderá observar que, para toda porta fechada, existe uma saída de luz que depende totalmente de você. Tudo aquilo que nos impede de fechar os olhos e a mente, resultando em autorreflexão e autoconhecimento, nos agrega valor e saber e, portanto, vale a pena conferir de perto. Tudo isso você pode encontrar nas canções do Epica. Espero que gostem!

“We’re masters of the universe/ The outcome is in our might!”
(“Nós somos mestres do universo/ O resultado está em nosso poder! ”)
(Epica – Tear Down Your Walls)

 

Leia também: Top10 baladas mais lindas da banda epica.

 


Aline Cunha

Professora de língua portuguesa, revisora textual e grande apreciadora de metal sinfônico, especialmente do Epica.

@alinecunha

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1 thought on “Um passeio pelos álbuns de estúdio do Epica – por Aline Cunha – playFEAT

  1. Aline, que surpresa boa ler seu artigo! Eu não conhecia o Epica… som forte, mexe com a alma da gente! Excelente seu texto! Fiquei muito orgulhosa de vc! Parabéns! Bjs

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