Letras tocantes, profundas e necessárias. Fenrir’s Scar e sua potente sensibilidade.
Fenrir’s Scar revela detalhes de suas canções e como vivências pessoais os inspiraram e inspiram a compor. Em primeira mão, eles nos mostram a tracklist e título do novo álbum.
A Playfonic se uniu ao portal Rock Vibrations para uma grande parceria e trouxemos uma entrevista exclusiva com o duo de gothic metal, Fenrir’s Scar. Com respostas pesadas e verdadeiras, eles nos contam detalhes extremamente importantes e relevantes em seu processo criativo, bem como na composição de suas letras e melodias. Ficamos embargados com algumas respostas, mas feliz e orgulhosos pela confiança que Deze e André (vocalistas) ofertada a nós. No bate papo eles abrem o coração e nos contam o que os inspira nessa jornada musical. Detalhes do novo álbum são dadas em primeira mão. Está imperdível.
Playfonic: Fenrir é conhecido na mitologia como o filho de Loki, possuindo as mesmas características de transformação do pai. Uma fera superpoderosa que está destinada a devorar Odin. Resumidamente, Fenrir é um ser famoso na mitologia nórdica. Para vocês, quais são as feridas de Fenrir e o que motivou vocês a escolher esse nome como título da banda?
André: Antes de mais nada, gostaria de agradecer a vocês da Playfonic pela oportunidade de divulgar nosso trabalho! Sobre a pergunta, o nome Fenrir’s Scar foi inspirado na música “Fenrir’s Last Howl”, da minha antiga banda de Power Metal, que se chamava CounterParts. Inclusive fizemos uma releitura dessa música no nosso álbum de estreia.
Quando sai da banda decidi levar o nome Fenrir comigo e junto com ele todas as cicatrizes do underground.
Como um fã de Cavaleiros do Zodíaco (risos) sempre gostei muito do personagem Fenrir do anime e da forma que ele era retratado, um pouco diferente da mitologia nórdica.Resolvi combinar o nome Fenrir com a palavra Scar, daí surgiu o nome Fenrir’s Scar.Sobre o Fenrir da mitologia nórdica, tenho pra mim que ele é mal interpretado como o vilão da história. Sempre era desafiado a demonstrar sua força, mesmo enquanto os deuses já tinham a intenção de prendê-lo por ser “uma besta gigante”. Mesmo assim sempre se superava e voltava mais forte.
Playfonic: Heal you é o último single de vocês lançado em novembro de 2019. A canção possui um refrão chiclete e uma letra poderosa. No heavy Metal em geral, é raro encontrar bandas que cantem em seu idioma nativo. Por ser uma língua universal, o inglês predomina nesse ramo. Mas, de forma brilhante, vocês souberam inserir trechos significativos em português nessa canção. A transição entre os dois idiomas soou natural e funcionou superbem. Qual foi o maior desafio em produzir essa canção? Teremos mais inserções do português em canções futuras?
Deze: Muito obrigada! Eu sempre tive vontade de misturar os dois idiomas numa música, mas tinha um pouco de medo de haver um pouco de preconceito com a língua portuguesa no heavy metal.
Algumas das minhas músicas favoritas do Lacuna Coil, são parte inglês e parte em italiano, e quis tentar fazer algo parecido nesse sentido.
O processo de escrever essa letra e música foi bem natural, e fluiu bem fácil, comecei a escrever as partes em português, depois as em inglês, mas não tinha o refrão. Daí mostrei a letra para o André, que em menos de uma hora criou a música toda e a parte da letra do refrão, que ele canta. O maior desafio pra mim foi conseguir cantar em português, encaixar a melodia, e não carregar tantos nas palavras terminadas em “r”. Como sou do interior isso foi o mais complicado (risos). Algumas pessoas falaram que a forma de cantar ficou parecida com a da Pitty, e acho que isso foi meio inconsciente por ser uma das referências que tenho como cantoras de rock em português.
Playfonic: Vocês, atualmente, estão em pré-produção do novo álbum. O público não tem muito acesso aos bastidores desse processo, mas é algo que inflama a curiosidade das pessoas. Quais as principais etapas até o lançamento de um álbum e como funciona o processo de criação das músicas? (vocês definem um tema antes de escrever? A letra vem antes e depois a melodia? Etc.).
Deze: O processo varia muito de música pra música, nós não temos um padrão para isso. As vezes eu escrevo a letra ou parte dela, e a partir daí o André cria a música. Ou às vezes é o contrário, ele cria a música e depois eu crio a letra, ou criamos a letra juntos. Mas a melodia, quase sempre criamos juntos.
A Beneath the Skin por exemplo, o André tinha uma idéia de como queria a letra e fomos escrevendo juntos, mas na maioria das vezes nós escrevemos sobre o que nos inspira e sobre o que estamos sentindo, ou que já sentimos em algum momento.
André: Depois que escrevemos as letras e criamos as músicas e melodias, nós gravamos uma guia de voz em cima de um midi da música, e a partir daí começamos a gravar os instrumentos e por fim as vozes. Todo esse processo final nós fazemos ao lado do nosso produtor Fabiano Negri, e juntos decidimos como vai ser o arranjo, se precisamos mudar alguma coisa da harmonia, melodia, ou o tom das músicas.
Playfonic: O próximo álbum já possui algum tema? Ele será conceitual ou terá uma temática livre? Vocês podem revelar algum detalhe?
André: O próximo álbum não é necessariamente conceitual, mas ele aborda alguns temas que se repetem, nas letras, e que de alguma forma se conectam.
O nosso primeiro álbum foi bem pessoal, mas com uma pitada de fantasia, no próximo vamos deixar a fantasia de lado, e vai ser ainda mais pessoal.Nosso próximo álbum, “Love | Hate | Hope | Despair”, será lançado em Agosto de 2020 e conta com as seguintes faixas:01 – Enemy Inside
02 – Heal You
03 – Break The Wheel
04 – The Curse of Mankind
05 – Blinded
06 – A Reason to Believe
07 – Breathe
08 – Age of Arrogance
09 – Mortal Coil
10 – Queen of the Seas
11 – The Harvest
12 – Final Requiem
13 – Te Curar (versão acústica em português de Heal You)
Playfonic: Fenrir repousando na base de uma árvore sem folhas, frutos ou flores. Em formato de FS, essa árvore simboliza o logo da banda e, também, conversa com todo o ambiente. Estaria Fenrir repousando devido suas feridas? Quem produziu e quais os conceitos por trás da capa?
Deze: O artista que fez a capa se chama Wesley Souza, e ele faz um trabalho magnífico!
Queríamos deixar nosso logo, FS, em evidência, como uma árvore “adormecida”, como vocês mencionaram: sem flores, frutos, e folhas. Mas viva!André: O corvo e o lobo foram adicionados por representarem a dualidade da vida, criação e destruição. E o quanto os opostos se atraem em busca de um equilíbrio constante, tal qual buscamos canalizar no nosso próximo álbum com amor e ódio, e esperança e desespero.
Playfonic: Um coração florescendo. Assim borboletas, abelhas, rosas e diversas outras flores brotam de um coração sem cor, cinza. A capa de Heal you é linda e simboliza perfeitamente a letra da música. Essa música é sobre depressão? Como podemos curar um coração ferido usando a música como ferramenta?
Deze: Obrigada! Eu criei a capa, e foi difícil no começo imaginar um conceito para ela, que transmitisse a mensagem da música. Inevitavelmente a primeira coisa que me veio à cabeça foi um coração. É uma música sobre amor incondicional e sim, também é sobre depressão.
Nos últimos anos o André sofreu com várias doenças, teve que passar por diversas cirurgias, e inclusive chegou a gravar nosso último álbum com muitas dores e prestes a ser operado.
Durante todo esse processo, a depressão dele piorou muito.
Eu via o quanto ele sofria com as dores, ficar acamado e não conseguir fazer as coisas que ele gostava.
Foi daí que surgiu a letra, uma forma de eu poder dizer a ele, que se eu pudesse, eu queria curá-lo, não só das dores físicas, mas psicológicas.
Quis transmitir isso na capa. Um coração cinza, triste, mas florescendo e se curando, através do amor, que são representados através das flores.
Playfonic: Vocês lançaram covers interessantes de músicas da trilha sonora do filme “Nasce uma Estrela”, cantados por Lady Gaga e Bradley Cooper, e, também, de uma música da Holandesa Anneke Van Giersbergen. Sempre colocando a identidade de vocês. Existe a pretensão de lançarem mais covers futuramente?
André: Sim, com certeza! No momento estamos trabalhando na versão de The Kids Aren’t Alright da banda Offspring, mas dando a nossa cara e interpretação da letra. Um hino atemporal que reflete as angústias e anseios da juventude. Essa música será exclusiva para quem fizer o pre save do nosso próximo álbum nas mídias digitais. Também estamos cogitando fazer o mesmo com Anywhere (Evanescence) e Helena (MCR) mas tudo dependerá do progresso de gravação do álbum. Veremos!
Rock Vibrations: “Stolen Innocence” trata de um assunto muito delicado e que infelizmente faz parte da vida de muitos hoje em dia… Quando pensaram em criá-la, tiveram algum receio em abordar o tema? aliás, colocar a perspectiva de uma vítima durante a canção foi algo inteligente para chamar atenção sobre o assunto.
Deze: Stolen Innocence foi uma música muito difícil de escrever, mas era algo que eu sentia que precisava falar, principalmente para o meu processo de cura. Essa música é autobiográfica. Todos os sentimentos que a letra aborda: raiva, medo, culpa, e vontade de superar e seguir em frente, foram coisas que eu sentia. E foi importante escrever sobre isso, para finalmente poder me livrar desse fantasma e poder viver.
André: Como dito pela Deze essa música é auto biográfica, para ambos. Normalmente – por vivermos em uma sociedade patriarcal e extremamente machista – achamos que só as mulheres são afetadas por essas barbáries. No entanto eu quis desenterrar os traumas que meu “eu” viveu aos 11 anos de idade ao ser abusado por dois vizinhos, e escancarar da forma mais visceral que eu conseguisse todos os sentimentos que ficaram comigo desde então. O lyric video propositadamente é focado na maior parte do tempo em um menino, lutando contra os sentimentos causados pelo trauma, e em uma menina, que além de lidar com os próprios traumas ainda cede a mão ao menino, demonstrando empatia, compreensão e apoio para que ele continue sua vida, no caso uma vida melhor, a partir daquele singelo gesto.
Rock Vibrations: Trabalhar como duo exige uma dedicação muito maior do que o normal ou conseguem administrar isso bem?poderiam apontar algumas vantagens que considerem importantes neste padrão?
André: Na verdade conseguimos administrar bem essa situação. Uma banda tem que estar alinhada na mesma sintonia e buscando os mesmos objetivos. Quando se tenta esse resultado com um número maior de pessoas, é um desafio enorme, ainda mais quando só se tem despesa e nenhum lucro. Manter um nível de exigência e foco necessário para que seja realizado um trabalho com a qualidade exigida pelo mercado é bem complicado.No nosso caso, ainda mais por sermos casados, é mais tranquilo o trabalho em dois. Temos nosso trabalho “de carteira assinada”, mas qualquer outro momento do dia estamos 100% trabalhando na Fenrir’s Scar. No momento temos o planejamento da banda fechado e alinhado até Fevereiro de 2022, isso passa uma tranquilidade e estabilidade para seguir rumo a um objetivo maior.
Rock Vibrations: Vocês trabalham independentes, certo?tem sido proveitoso o retorno que alcançaram até aqui?
Deze: Tem sido difícil, o retorno financeiro não chega perto do que investimos para fazer música. Mas é algo que nós amamos muito fazer.
O que nos incentiva e nos motiva a continuar é o apoio dos nossos seguidores e amigos. Quando vemos um comentário dizendo o que nossa música significa para essas pessoas, e que de alguma forma se identificam ou as ajudaram de alguma forma, isso é muito gratificante.
Rock Vibrations: Como tem sido comum este tipo de assunto, creio que possam falar sobre : o streaming dominou o modo de se compartilhar música, qualquer artista consegue atingir um número maior de fãs através de suas mídias, no entanto, as mídias físicas estão se tornando obsoletas, ou um objeto de colecionadores. O que fazer para que seus seguidores adquiram o “merch” e produtos variados?
André: Esse tem sido um desafio para nós. Hoje em dia o streaming é muito democrático e é muito mais fácil poder lançar música do que era antigamente. Mas o retorno financeiro é muito pouco para o artista. E muitas vezes é preciso investir mais ainda em divulgação para fazer a música chegar em mais pessoas.
No metal ainda existe uma pequena parte do público que mantém a cultura de compra de CDs físicos, mais do que em outros estilos, ao meu ver. Mas ainda assim, é um dilema que estamos enfrentando no planejamento do próximo disco, se haverá cópias físicas e se houver serão edições bem limitadas.
O CD ainda é um merch muito barato e com uma margem de lucro maior do que camisetas por exemplo, mas estão ficando ultrapassados, já que a maioria utiliza os streamings hoje em dia, e quando compram acaba virando um item de coleção, ou até mesmo decoração.
Rock Vibrations: A sequência de lyric videos irá permanecer para o novo trabalho?De fato, eles estão em alta no mercado atualmente.
Deze: Até o lançamento do álbum novo iremos lançar alguns lyric videos do álbum anterior, que era algo que queríamos ter feito no passado, mas por diversos motivos não conseguimos fazer isso antes.
Com o lançamento do material novo, queremos fazer mais dois videoclipes no mínimo, e as outras músicas do disco serão trabalhadas e divulgadas com lyric video. Os lyric videos são uma forma mais barata de divulgar a música. Que hoje em dia precisa ter um trabalho audiovisual para ser consumida pelo público.
Rock Vibrations: O foco sempre foi buscar canções alternativas e que estivesse dentro do Gothic Metal ou imaginavam estar em outras vertentes do Rock?
Deze: Minhas influências vêm muito do gothic metal e do metal alternativo, comecei a cantar por influências de bandas como Evanescence, Lacuna Coil mas também de bandas do metal sinfônico como Nightwish e Within Temptation por exemplo. O André tem um background mais eclético, mas acabou se encontrando nesse estilo também.
André: Isso não quer dizer que ficaremos “presos” no estilo. Nas gravações do novo álbum estamos usando elementos de fora do nicho como Hammond’s, Synths, elementos percussivos, entre outros.
Rock Vibrations: Obrigado pela entrevista e por aceitarem a oportunidade de dividirmos essa entrevista com os parceiros da Playfonic. Gostariam de deixar algum recado final?
Deze: Gostaria de agradecer muito a Playfonic e a Rock Vibrations pelo espaço e apoio que vocês dão ao underground e a música independente.
Isso é fundamental para que possamos continuar divulgando nossa música. Admiro muito o trabalho de vocês!
Gostaria de agradecer a todos que nos apoiam, nos ouvem, e estão lendo essa entrevista. Vocês também são fundamentais para continuarmos fazendo nosso trabalho. Obrigada!
André: Faço minhas as palavras da Deze e aproveito para parabenizá-los por trabalharem bastante com a música independente! No que pudermos ajudar, contem sempre conosco!A vocês lendo a entrevista que por ventura já conheciam o nosso trabalho, obrigado pelo apoio de sempre e nos vemos em breve!A vocês que não conhecem o nosso trabalho, o único bloqueio é o “play”. Passem por esse bloqueio e eu tenho certeza que será uma experiência única! Boa ou ruim, depende do seu gosto pessoal. Mas com certeza, uma experiência válida e FUNDAMENTAL para que o heavy metal brasileiro não morra. Fica o pedido, superem a barreira do primeiro “play”!
Nossos agradecimentos ao Fenrir’s Scar pela gentileza em ceder essa entrevista. E, agradecemos também, nosso querido parceiro de trabalho: Rock Vibrations. Muito obrigado Vinny, esperamos que essa união perdura por muito tempo.
Essa matéria você lê, na íntegra, no site da Rock Vibrations. Basta clicar AQUI.
Agradecemos o apoio de nossos leitores. Esperamos que tenham gostado.
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Não conhecia a banda, achei a proposta bem interessante e eles tem bastante potencial. Desejo sorte