A Importância do Dia do Cantor Lírico, pela ótica de Rayssa Monroy
Olá Sinfônicos, tudo bem? Esta semana, dia 22 de julho, foi comemorado o dia do cantor lírico. Uma data extremamente importante para nós honrarmos nossos queridos e queridas cantores líricos, do nosso mundo da música, tanto da clássica como do metal sinfônico.
São tantas vozes com talento imenso que é difícil de apontar todas em um único texto. O termo lírico é inspirado no instrumento de cordas lira, que era tocado enquanto cantavam, recitando poemas.
Para nos ajudar a entender melhor essa data, conversamos com a cantora Rayssa Monroy. Vocalista de uma banda de metal sinfônico incrível. Ela também é cantora lírica, tem formação em canto clássico e coral, tendo uma extensa experiência nessa área musical. Ela nos deu a palavra e vai responder algumas breves questões que fizemos sobre o dia do cantor lírico.
Segundo Rayssa, não se sabe qual o motivo para a existência dessa data neste dia especificamente. Ela acredita que foi apenas um dia que se estabeleceu devido o dia do cantor ser no dia 13 de julho. Então procuraram algo próximo a essa data.
Confiram a conversa com a cantora Rayssa Monroy abaixo:
Playfonic: Qual a importância dessa data para representar os cantores?
Rayssa: A importância da data para representar os cantores é máxima. Ela ajuda a gente no alcance. Quando se demarca uma data para alguma coisa, seja uma pessoa, seja um fenômeno, seja um evento histórico, você dá oportunidade para que outras pessoas fora daquele universo enxerguem o que está sendo comemorado. Olha aquele dia é o dia de alguma coisa que representa algo.
Claro que nem todas as pessoas vão buscar saber o que é o dia do cantor lírico. Muitas pessoas vão continuar, provavelmente, sem saber do que se trata, mas as palavras estão ali. Elas vão em algum momento se deparar com aquilo, talvez as peças se juntem e elas acabem descobrindo todo o universo maravilhoso de um canto que não, necessariamente, é o canto popular, que também é uma delícia é uma maravilha. Enfim, elas vão acabar descobrindo algo de novo.
Eu acho que demarcar uma data demarca um lugar, e isso é essencial para nós, se pensarmos que o cantor lírico nunca foi um canto que alcançasse tanto as massas. E nisso eu já puxo a nossa orelha, pois eu acho que tem muito da culpa do cantor lírico aí.
Acredito que o fato de termos uma data e o fato de nós estarmos com essa data e com outras ações, buscando alcance maior, isso também nos coloca a reflexão de porque estamos fazendo isso agora e não fizemos antes. Aquele que a elite serviu o canto lírico. Pra quem se cantava. Quem era o dito homem erudito, que saberia apreciar o canto lírico. Se nós, por exemplo, nunca subimos uma favela, nunca quisemos cantar no meio de uma praça, se nunca nos preocupamos com alcance maximizado da nossa arte.
Então fica aí eu acho que a questão do dia traz essa nova consciência, de pensar que isso aqui é o meu lugar, isso é o que eu faço e eu quero que todos as pessoas sejam alcançadas pela minha voz!
Playfonic: Nos conte um pouco de sua história e experiência como cantora lírica. Como descobriu que tinha esse dom e que gostaria de seguir essa carreira musical?
Rayssa: Quando eu tinha 3 anos, escutei no rádio, no ano de 1994, a gravação de “How Can I Go On”, na voz de Montserrat Caballe e Freddie Mercury. Aquela foi a primeira vez que eu os ouvi. A minha reação: eu tava sentadinha de fralda no chão e, quando ela começou a cantar, eu prestando atenção na voz do Freddie, ouvi a voz da Montserrat, comecei a chorar. Chorar muito. Minha memória emocional é excelente. Minha mãe veio correndo do outro lado da cozinha me recolhendo, me levando para longe do rádio, e eu segurei na blusa dela e falei: Não mãe!
Ela parou, e eu ouvi a música inteira nos braços dela. O meu pai disse que ali, naquele momento, ele sabia que eu ia ser cantora lírica.
Todos os dias eu pedia pra ele ligar para a rádio. Todo dia eu apontava pro telefone, pra ele colocar música na rádio, porque pra mim era meu pai que colocava a música na rádio(risos).
Meu pai tinha contato com todos os profissionais de rádio da da cidade, ele ligava e falava: a minha filha tá querendo muito ouvir aquela música do Fred Mercury. E curiosamente essa música tinha estourado no brasil em 93 e 94. Que era a música “How Can I Go On”.
Foi quando o radialista perguntou: quantos anos sua filha tem? Meu pai disse: ela tem 3 anos. E o radialista ficou espantado, de um jeito positivo, é claro. E aí o rádio oferecia a música pra mim, pra ‘rayssinha, filha do Jota’. E ninguém desconfiava que era uma criança de 3 anos que pedia a música. E essa foi a primeira vez que eu ouvi uma cantora lírica e depois eu nunca mais parei.
Quando eu tinha 6 anos, ganhei um cd, que eram 150 melodias clássicas de óperas, ao longo do mundo. Eu ouvia todos os dias. Foi nessa época que eu comecei a escrever, comecei a manifestar minha veia para a escrita, para a composição, e foi ouvindo música clássica. Nunca parei!
Por volta de 11 de idade eu descobri uma banda de metal sinfônico. Descobri que existia o metal sinfônico(risos). Graças a finada MTV. Ouvi a música Nemo, do Nightwish, pela primeira vez e descobri que uma coisa podia se juntar a outra. Porque, até então, eu tinha um dilema na minha cabeça, que eu já me considerava metaleira, mas eu queria ser cantora lírica. E ai? São universos que naquela época ninguém pensava em juntar. Se hoje já é quase impensado juntar, tem pessoas que torcem o nariz só de pensar, imagina há vinte anos atrás. Então o Nightwish foi uma solução, foi um vislumbre do paraíso na minha vida.
Então, (conheci) a cantora Tarja e, obviamente, não conseguia alcançar as notas alcançadas por ela. Eu já tinha o inglês, mas eu não alcançava as notas que ela alcançava e isso era uma frustração. Mas, eu era uma menina de 11 anos com um sonho e eu falei pra mim: eu vou cantar como você um dia, eu vou cantar como essa mulher.
A história seguiu seu curso. Nunca parei de cursar teatro, nunca parei de estudar canto. Aos 19 anos entrei pra escola de música do estado do maranhão. Estudei canto lírico lá por 3 anos. Parei por causa da faculdade. Voltei ano passado. Mas esse ano(2019) sairei novamente, pois irei sair do Brasil. Nesse meio tempo, no ano de 2012, entrei para a banda Vangloria Arcannus, que era uma banda de covers de metal sinfônico na época, mas que já tinha intenção de ser autoral. Hoje a banda Vangloria só toca músicas autorais.
Eu sempre cantei. Não vou dizer: nossa eu tinha um dom. Mas eu sempre cantava. Minha voz sempre foi muito forte, muito alta e muito afinada e, também, nunca fui tímida. Eu queria oferecer para as pessoas a minha voz. Eu acredito que tenha sido uns 30% dom e o restante muito esforço, persistência e um absoluto insano amor.
Eu fui, durante muito tempo, aluna do curso de canto lírico da escola milagres boa do estado do Maranhão. Durante 10 anos fui corista, solista do coral da universidade federal do maranhão, sobre a regência de Regiane Camarques, professora, maestrina, pianista, formada pela universidade de Aveiro Mestre, de portugal. Também já estive sob a regência de Veronica Vespucci, uma européia que atualmente vive no Brasil e já formou cantores pelo mundo todo. Fora do Brasil eu já estive sob a regência de 6 maestros em paris, bruxelas, suíça.
E, recentemente, a minha grande inspiração é a Finlândia. A Sibelyus Academy, onde o próprio Sibelyus estudou, é conhecida como o grande conservatório de música da finlândia. Bom essa é toda a história 🙂
Playfonic: Você poderia dar alguma dica para os jovens que querem se tornar cantores líricos?
Rayssa: Eu até me emociono com essa pergunta. Pensar que eu posso dar alguma dica que ajude outra pessoa, que está na metade do caminho como eu ainda estou, é muito emocionante. Eu ainda não cheguei lá e nem sei se alguém chega nesse tal desse lá. Mas para todos nós que estamos tentando, a minha dica é:Vá em frente! Vá em frente!
Eu não vou dizer: não olhe para os lados. Ao contrário, olhe para os lados, absorva emoções, traga-as com você, carregue as pessoas consigo dentro do peito. Relembre, rememore suas dores. Se vanglorie das suas alegrias. Recorde cada um dos seus amores.
Todas essas emoções vão ser necessárias quando você estiver em cima do palco, com nada além de você. Porque o cantor o cantor, ele não tem outro subterfúgio senão ele mesmo. E nisso, alguém vazio, alguém sem emoções, alguém disperso, alguém que não olhou pro lado enquanto caminhava, não é ninguém.
Quando o pianista se senta ao piano, ele tem o piano para se apoiar. Violinista vai ter o violino. Enfim, você divide atenção do público com seu instrumento. O cantor não. Cantar é como se despir. Você só tem a você. E só você.
Então o meu conselho é: vá em frente! E pelo caminho recolha todas as coisas que possam te ajudar. Seja você, porque autenticidade é uma coisa que não se compra, e é a única coisa que não se pode tirar de um bom cantor. Técnica, voz, todo o resto é aprendido. Mas aquele elemento x, que todo mundo procura, aquilo é autenticidade, só você pode fazer por você. É isso!
Espero que tenham gostado dessa entrevista com a cantora.
Deixem nos comentários o que acharam! 🙂
Facebook da Rayssa Monroy: fb.com/Rayysa
Abaixo deixo listado alguns vídeos de algumas apresentações dela e de sua banda Vangloria Arcannus:
Ah a música How Can I Go On, do Freddie Mercury com a Montserrat que ela fala, vocês podem conferir nesse vídeo:
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Maravilhosa!!!! Eu tive a sorte de conhecer essa mulher incrivel, e a levo comigo o tempo todo. Parabéns e mil vezes parabéns!!! Aaah e obrigado por me inspirar a continuar buscando o que amo!!!